Barra do Cunhaú

Situada no litoral sul do Rio Grande do Norte, Barra do Cunhaú está a 90 km de Natal e 110 km de João Pessoa, no município de Canguaretama, via de acesso pela BR-101.

Seu primeiro núcleo de colonização foi à aldeia Gramació, hoje o município de Vila Flor. Foi aqui, nos engenhos de Cunhaú, onde aconteceu um dos massacres que deu origem aos mártires,  cujo decreto de beatificação foi proclamado pelo Papa,  em 21 de dezembro de 1998, processo que  se encontra agora rumo à canonização, no aguardo da comprovação de um milagre, de acordo com as regras da igreja católica.

Os massacres aconteceram em 16 de julho de 1645, no engenho de Cunhaú, e em 03 de outubro de 1645, em Uruaçu, praticados pelos holandeses e índios Tapuias e Potiguares, chefiados pelo mercenário alemão Jacob Rabbi.

Cunhaú possui (ainda) um grande manguezal, que funciona como um viveiro natural de ostras, caranguejos e outras espécies marinhas, apesar de bastante depredado devido à criação de camarões. Agrega uma vasta área voltada à carcinicultura, que contribui com grande parcela  para a liderança do Rio Grande do Norte na exportação de camarões. São as duas faces da mesma moeda.

Segundo o historiador potiguar Câmara Cascudo, Cunhaú significa “lugar onde as moças bebem água”.

Vila de pescadores é banhada pelo rio Curimataú, que se juntando com o Rio Cunhaú, deságua na barra que lhe dá o nome.

Polo  turístico por excelência, começa a partir de agora  a despontar como ponto para a  pesca esportiva em mangues, com o aparecimento  da primeira estrutura do estado para tal pratica. Até bem pouco tempo, era impossível se achar para alugar um barco que atendesse as necessidades básicas da modalidade, como barcos de alumínio, motores de popa e elétrico.  É o primeiro e único barco montado para tal fim, mas pelo menos é o primeiro passo.

A pescaria de robalos em mangues é uma das mais gratificantes. Em compensação, é uma das mais difíceis, porque você tem que conhecer muito bem o rio, seus pontos e melhores marés. Um neófito pode bater um dia inteiro atrás do peixe, não ter nenhuma ação e ficar convencido de que lá não tem robalos. Por outro lado, um conhecedor pode realizar uma pescaria de sucesso em apenas uma hora, bastando conhecer a combinação pontos/marés. É claro que nunca pode ser uma pescaria garantida, mas de modo geral o conhecimento aproxima muito o pescador do sucesso.

Em Barra do Cunhaú pode-se optar por duas pescarias distintas, uma na boca da barra, atrás de grandes peixes como tarpons e xaréus, e outra pescando no mangue, atrás dos robalos.

No presente caso fomos atrás dos robalos. Iscas artificiais é a modalidade escolhida, e o objetivo é conhecer o rio, tarefa que levará um bom tempo, mesmo porque teremos que conhecer o comportamento dos peixes nas quatro estações, no nosso caso (nordeste) apenas verão e inverno (período das chuvas). Além disso, precisamos conhecer qual a influencia das marés na corrida do rio, altura em que adentram o mangue, etc, coisas desse tipo de pescaria.

Nas grandes marés, costumam entrar grandes cardumes de peixinhos no rio, principalmente no verão. São sardinhas e outra espécie que os nativos chamam de arenque. Da última vez que presenciamos tal fato, estávamos sem passaguás ou outro apetrecho que nos permitisse capturar um exemplar para realmente identificar a espécie. Mas o fato é que a pescaria vira uma festa.

O que acontece? Grandes concentrações de peixinhos vão subindo o rio, formando como se fosse um só corpo, para se proteger. Em baixo deles estão os predadores, no caso robalos, xaréus, pescadas e até mesmo tarpons, mas os mais comuns são as pescadas e os robalos. De repente, a explosão! Vindo de baixo, o ataque! A água ferve com os estouros dos ataques, aqui e acolá. Os pescadores nativos, em barquinhos a remo, vão acompanhando essa subida, e nós atrás, maravilhados. Lembra-me os estouros de cardumes de tucunarés na Amazônia, saudosa lembrança…

Jogamos todo tipo de isca artificial, de superfície e meia água, mas não estamos preparados com a isca certa e não sofremos nenhum ataque. Por sua vez, os nativos vão fazendo a festa… Usam camarões vivos com chumbadas, e assim que se dá o estouro, jogam em cima. Embora não seja toda jogada uma fisgada, vimos vários robalos flecha na faixa de 2/3 quilos serem capturados. No nosso caso, faltaram em nossos estojos iscas como jigs, grubs, jumping jigs, etc. Tenho certeza que seriam bastante eficazes, mas aprendemos a lição, na próxima estaremos preparados, afinal estávamos só conhecendo o rio…

Depois dessa ocasião voltamos com uma maré morta, não aconselhável para esse tipo de pescaria de “estouro”, mas mesmo assim tivemos alguma ação, como essa pescada branca e um “bagrote vulgaris” que entraram nos jigs.

Conversamos sobre esse tipo de pescaria com um casal amigo que gosta de pescar, e resolveram conhecer o local usando camarões vivos. O resultado foi uma bela pescada amarela, além de robalos e baby tarpons.

Outra coisa interessante é que em todos os barquinhos de madeira dos pescadores, víamos uma fumacinha saindo de um recipiente colocado logo à frente deles. Perguntados, nos informaram que era lenha queimando para se proteger das mutucas e maroins. Um pouco mais à frente ficamos com uma baita inveja de não ter também a tal fumacinha… Nas próximas pescarias, calças, meias e camisas de mangas compridas…

Apesar da pouca experiência nesse rio, já temos devidamente catalogados alguns excelentes pontos, principalmente um que é um verdadeiro berçário de baby tarpons. O interessante é quando estão em franca atividade, acusando sua presença com suas evoluções e também com as bolhas de ar que soltam ao respirar. Dizem que nessas horas não atacam as iscas, mas nossa experiência mostrou o contrário. Talvez uma exceção para uma determinada situação que não chegamos a perceber. Também já vimos grandes tarpons batendo em diversos pontos do rio, mas ainda não dá para estabelecer um padrão.

Quanto aos robalos, não fogem à regra: Bem mais para cima do rio, a maior parte das capturas é de pevas, e mais para baixo, em direção à barra, predominam os flechas.

Outra coisa de suma importância é o “Pesque e Solte”. Por aqui não é muito praticado, mas está em nossas mãos dar o exemplo. A natureza pede socorro e agoniza. Não é só a soltura do peixe que vai resolver o problema, o pesque e solte é apenas um dos vetores da solução. Depredação, poluição, desmatamento, pesca predatória com redes, tarrafas, mergulho, envenenamento das águas, ocupação do solo indiscriminadamente, entre outros agravantes, contribuem para o desaparecimento de muitos paraísos. Temos direito de levar peixe para casa, mas com bom senso. Façamos então a nossa parte.

Muita água ainda vai rolar até mapearmos todo o rio, mas agradáveis surpresas nos aguardam. Aos amigos que vierem em visita à terrinha e quiserem fazer uma pescaria em Barra do Cunhaú, está dada a sugestão.

Material usado na pescaria:

  • Vara 10 a 25 lbs, 6 pés, carretilha com multifilamento 20 lbs, líder monofilamento 0,60 mm.
  • Vara 10 a 17  lbs, 5.6 pés,  carretilha com monofilamento 14 lbs, líder 0,52 mm fluorcarbono.
  • Iscas artificiais de superfície e meia-água, de 7 a 11 cm.

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Sobre o autor

Marco Antônio Guerreiro Ferreira

 
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