Sonhei com o rio Iriri

Sonhei que estava em São Paulo, me preparando para uma pescaria no rio IRIRI com velhos amigos da “turma do chegado”. Companheiros das lides amazônicas, nessa viagem trocaríamos os Açus e Pacas pelo conhecimento de uma nova região.

Começamos nossa jornada no aeroporto internacional de Guarulhos, às 09:00hs do dia 26 de Novembro de 2006, um domingo qualquer, não fosse ele tão especial para os membros da “equipe do chegado”: – Zanon, Daniel, Sérgio Barba, Guila, e eu. Assim que cheguei ao aeroporto, encontrei o pessoal amargando uma fila enorme, resultado do descaso e incompetência que grassa na aviação civil, que afinal veio à tona. Depois dos abraços e escândalos usuais, voltamos quase à normalidade. Afinal, estávamos indo para o rio IRIRI, no sul do Pará, local cantado em verso e prosa por todos que tiveram o privilégio de por lá jogarem suas iscas…

Após seis horas de avião (São Paulo – Manaus – Santarém – Pousada), isso contando somente as horas voadas, chegamos ao nosso destino, na pista de pouso particular da pousada, as 17:00hs. Fomos recebidos pelo nosso amigo Gugu e sua equipe, que descarregaram o pequeno monomotor (puta queopariu, que porra de experiência essa de voar de cesninha, uma badtrip!!).

Cabe aqui um puta “parênteses” para falarmos da Pousada IRIRI, uma senhora pousada. Somente quem esteve lá sabe do que estou falando. Passaria horas descrevendo todos os detalhes pensados e não esquecidos por Dom Gustavo, simplesmente ducaralho., desde os colchões de molas que equipam todos as camas da pousada, luzes de baterias nas cabeceiras das camas, até água quente para o banho. Nada foi esquecido, simplesmente um luxo (desculpa aí, Patrese!).

Na primeira noite ouvimos atentamente o relatório do Gugu sobre as condições do rio em relação ao nível das águas, como também sobre os pontos de pesca. As primeiras notícias não foram nada animadoras, pois de acordo com ele o nível estava muito alto, o que dificultaria bastante nosso “trabalho”, mas que não faltariam ações em nossas varas. Fomos informados que deveríamos esquecer todos os conceitos e teorias que tínhamos firmado sobre tucunaré e trairão, pois ali no IRIRI, naquelas condições, eles costumavam ficar nas pedras, nas corredeiras.

Durante essa nossa primeira noite foi servido um caldo de piranha espetacular, com direito a “comichão” e tudo mais, entrada para um jantar simples, porém muito saboroso, acompanhado de uma excelente seleção musical, aliás, marca registrada do Gugu.

Nossa primeira manhã de pesca deixou muito a desejar (estou me referindo ao Barba e ao Guila), pois Daniel e Zanon arrebentaram de pegar peixe, e de várias espécies, desde xupita (uma espécie de piranha de papo vermelho, e muito grande), passando por bicudas enormes, ótimos tucunarés e matrinchãs. Até o nosso grande objetivo, o trairão, também já tinha dado o ar de sua graça. Nada de extraordinário em relação ao tamanho, mas…

(Eu, Marcão, embalado em meu sonho, nem cheguei a pescar…)…

Esse tinha sido nosso consolo, pois se nossos amigos tinham se dado tão bem, o “defeito” deveria estar em nossa dupla (Guila e Barba). O peixe estava lá, putaqueopariu, de várias espécies e tamanhos.

À noite, na hora do jantar, nos reuníamos e trocávamos informações sobre a pescaria, locais, tipos de iscas etc.

Nosso segundo dia foi maravilhoso. É fato que tivemos que batalhar muito, mas valeu a pena por cada arremesso e cada trabalho diferenciado de nossas iscas, e conseqüente estouro dos “meninos”. Quando falo “nós, nosso ou nossa”, estou me referindo ao Barba e ao Guila, pois eu simplesmente os estava acompanhando no barco, gravando a pescaria em minha imaginação.

Perto da hora do almoço, com o sol “fritando”, paramos em ponto típico de trairão e tucunaré, com muita arvore caída, muita pauleira e raseiros, atípico para a época, e, apesar do aviso do nosso piloteiro “Zé” para deixar pra lá, pois não iríamos conseguir nada, firmei (Guila) pé de que pauleira comigo não passa batido e realmente nossa intuição valeu a pena, meu primeiro trairão. Verdade que não era aquele dos meus sonhos, mas porra, era um trairão e muito bonito. Realmente o bicho é espetacular, que força bruta, que resistência, sem palavras…

A tarde não foi tão boa, mas no final acabamos achando uma arvore enorme e era só arremessar e lá vinham nossos amigos tucunarés. Fizemos vários dubles e garantimos a pescaria do dia.

No terceiro dia, como já havíamos combinado, subimos o Rio Bala para pescarmos peixe de couro, pois nessa época, por causa da altura das águas, conseguiríamos chegar aos poções. Na primeira parada fisgamos alguns jaús de loca, que como o nome já diz, quando fisgado tenta se livrar do anzol buscando refúgio nas locas de pedra.

Foram também fisgados palmitos enormes, conhecidos na região como fidalgos, e também corvinas. Continuamos a subir o Bala, e a cada parada em novos poções o nosso entusiasmo pelo lugar aumentava. Eram peixes e mais peixes de diversos tamanhos e espécies. Cacharas, fidalgos, corvinas, pirararas, arraia de fogo, cachorras e até mesmo trairões, que foram capturados com iscas de pedaços de peixe, simplesmente deixando a isca descer ao lado do barco, simplesmente inacreditável.

Um capítulo a parte foi nosso almoço no “Bala”. Foi difícil pararmos para almoçar, pois os peixes não davam descanso. Com o cansaço batendo e dor no coração, procuramos um lugar nas margens para “montar a cozinha”. Nossos piloteiros, o “Zé” e o “Ribamar”, começaram a armar as nossas redes de selva, para que pudéssemos esperar a hora de comer tirando um pequeno cochilo. Enquanto isso eles iam fazendo bancos, mesa e assando alguns peixes (fidalgo, cachara e corvina), acompanhados por uma bela salada de tomates e cebolas, além de algumas batatas cozidas na brasa. Demais!!!

O final da tarde já se aproximava e nos reservara grandes surpresas, pois tivemos várias linhas estouradas com as corridas dos grandes de couro, uma sensação que jamais iremos esquecer.

No dia seguinte voltamos a pescar no IRIRI, com iscas artificiais, atrás dos trairões. Após inúmeros arremessos e muitos tucunarés, bicudas, matrinchãs e cachorras, finalmente nossa persistência foi recompensada com um verdadeiro ser pré-histórico, um magnífico TRAIRÃO acima dos 8kg.

O primeiro trairão de verdade ninguém esquece. Uma puta briga, saltos, corridas para as pedras, novos saltos, novas corridas, mas no fim o brucutu estava em minhas mãos paras as fotos. E não foram poucas, com muita alegria e muita gritaria. Caracamoleque, eu (Guila) tinha pegado meu primeiro trairão peso pesado, com minha Johnny (Jumpin´ Minnow) laranja, sem encastoado, e com muita sorte também. C A R A I O , MULEKE!!!

(Eu, Marcão, recolhido discretamente no fundo do barco, continuava a sonhar e a gravar na imaginação esses momentos inesquecíveis…).

Esse dia nos reservara mais um fato inusitado, pelo menos para o Guila. Durante uma briga com um belo tucunaré, teve sua linha rompida. A principio pareceu fadiga do material ou linha puída, mas nosso piloteiro avisou que a mesma tinha sido cortada por piranha. Enquanto o Guila ajeitava o material, o Barba localizou um movimento estranho na margem e o Zé logo foi falando que era o peixe que tinha escapado que estava sendo comido pelas piranhas. Fomos até o local e o Zé desceu rapidamente, conseguindo pegar o peixe e ainda recuperar a isca. Causo de pescador???? Veja e tire suas dúvidas.

O resto do dia se passou sem nenhuma surpresa, com muitos peixes, muita alegria e muita diversão.

Por falar em diversão, alguns chavões foram “criados” espontaneamente, tipo: “Em pau que balanga, matrinchã não encosta”, que a todo o momento era repetido pelo nosso piloteiro, ou então, após um puta arremesso ou captura de um belo exemplar, logo escutávamos: “Observe e aprenda”. Realmente um dia inesquecível.

Nosso último dia de pescaria transcorreu com aquela sensação de “tá chegando a hora” e com muitas dificuldades em relação à captura dos peixes, pois o nível das águas continuava subindo.

Antes mesmo de terminarmos o dia já tínhamos reservado a semana de 07 de Setembro de 2007, pois mesmo no fim da temporada do trairão e tucunarés, e com toda aquela água, tínhamos feito uma pescaria sensacional. O que será que está reservado para nós na época ideal??????

Balanço Geral: Dezoito espécies de peixes foram capturados:

Tucunaré, trairão, bicuda, piranha, matrinchã, pacu, pirarara, cachara, jurupensém, palmito (fidalgo), jaú de loca, cachorra, corvina, xupita, arraia de fogo, barbado, jacundá, mandubé e até jacaré (que não está na conta).

A estória desse jacaré fica para outra oportunidade, pois vale a pena ser contada. Continua jacarézando feliz por lá, mas dizem que pensa duas vezes antes de atacar peixinhos que nadam na superfície “rebolando”…

Informações adicionais: Equipamentos utilizados.

Vara 5,6” by Dico 20 lbs

Iscas; Jumpin´Minnow, Dr Spock, hélice Yacaré, Top Dog, popper Yacaré, meia água tamanho médio Red Fin, colher Johnson 3\4 prateada.

Bem, pessoal! Chegou ao fim o sonho. Como vocês devem ter deduzido, não participei dessa pescaria, apenas ousei estar em pensamento na companhia dos amigos diletos. Fui apenas um porta-voz do relato do meu amigo Guila. Apropriei-me de seu texto e de suas fotos para colocar mais essa experiência para todos nós. Fiz apenas pequenas intervenções sem alterar o conteúdo original, a título de brincadeira.

Espero no próximo ano participar de corpo e alma dessa aventura! Nessa estive apenas em sonho!

Leia também a matéria: Voltei ao rio Iriri

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Sobre o autor

Marco Antônio Guerreiro Ferreira

 
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